Oi gente,
Tudo bem por ai?
A vida está frenética! Por conta das tarefas diárias produzir conteúdo está sendo um desafio, porém, os estudos não param (porque vida de professora é um eterno aprendizado).
Então, como não consigo criar conteúdo diário mas não parei de ler (e inventei de montar um blog!), achei uma boa ideia disponibilizar os resumos dos últimos livros que passearam aqui pela minha escrivaninha.
Alguns são velhos conhecidos da época da faculdade - mas gosto de revisitá-los - outros são novidade para mim também, e vieram junto com a nova pós graduação. E para a sorte de quem ler o post todos os resumos postados serão de livros que aparecem constantemente nos concursos.
Aliás, muitos eu adquiri exatamente por isso.
Bora começar a leitura?
O livro de hoje, conforme o título da postagem, é o "Concepção Dialética da Educação" do Gadotti, figurinha carimbada em todos os editais.
Uma obra densa, mas não muito difícil de ler. E tentarei escrever da forma mais simples possível, sempre marcando o que considero mais importante no texto. São 163 páginas de conteúdo, e para quem não curte filosofia a indicação é que não compre, pegue emprestado, veja se tem disponível em PDF em algum site autorizado, ou até mesmo em um sebo. Compre apenas se você gosta de Filosofia da Educação e áreas afins, pois é um investimento em torno de quarenta reais (R$ 40,00) para uma obra que sem dúvida enriquece a consciência pedagógica, mas pouco diz sobre a prática.
Esta obra do Gadotti está dividida em 4 capítulos:
1. A dialética: concepção e método
2. Crítica da Educação Burguesa
3. Crítica da Pedagogia Crítica
4. Crítica da Educação Brasileira
Após a leitura tive dificuldade em resumir o conteúdo, consultei alguns vídeos explicativos e consegui focar nos pontos que achei mais importantes - E abaixo seguem as nove páginas produzidas:
A primeira percepção do livro são as citações de Gramsci - filósofo italiano que desenvolveu diversas teorias com base na ideologia marxista - demonstrando a sua crença nas relações pedagógicas que não se dão apenas na escola, ou apenas por conhecimentos passados de geração em geração (mais velhos para os mais novos), mas também pelas próprias experiências e pelos seus valores históricos e culturais.
Gramsci também afirma que toda a relação de hegemonia (supremacia, influência exercida por um povo, cidade, etc...) também é uma relação pedagógica.
E essa hegemonia é constantemente alimentada pelo aparelho ideológico do Estado. Sim, essa é a visão de Gramsci e também de Gadotti. Lembrando que este é um blog de Pedagogia, portanto não há discussão política, o resumo apenas demonstra a visão do autor.
A escola, para Gramsci, é um desses aparelhos ideológicos, pois é usada como instrumento de manutenção das classes dominantes.
Não só a escola como outras super estruturas como a igreja e o judiciário que determinam, mesmo que indiretamente, as condições sociais e de trabalho.
O autor utiliza as ideias de Marx a partir de uma leitura não positivista, isto é, não apenas norteada pelo estudo social científico de Marx, e sim pelos estudos filosóficos, pela divisão social do trabalho, das classes sociais que estão diretamente ligadas ao ambiente escolar.
O estudo pedagógico e político de Marx é trazido nesta obra para desenvolver as ideias sobre a concepção da Educação.
A Educação é utilizada como aparelho ideológico no sentido de fazer com que as novas gerações se adaptem ao discurso da classe dominante e do modelo da sociedade já existente.
Porém Gadotti afirma que essa não é a função da Educação (perpetuar padrões), e sim ser emancipadora e libertadora, como podemos ver na obra de Paulo Freire.
Capitulo I - A dialética: Concepção e método
Podemos entender a dialética como um processo de diálogo que busca a verdade entre os interlocutores de uma conversa ou até mesmo entre teorias ou empirismos. Trata-se de conflitos e contradições a serem discutidas por partes que possuem ideias contrárias.
Na Grécia antiga a dialética surgiu da ação de argumentar e descobrir contradições no raciocínio do adversário e Sócrates foi um dos grandes representantes da arte de identificar essas contradições.
Ele acreditava que já nascemos com o conhecimento, só precisamos aprender a exterioriza-lo.
Cunhando o termo Maiêutica – parir conhecimento e a célebre frase "Conhece-te a ti mesmo" (Encontrar o conhecimento dentro de você).
Embora Sócrates seja um de seus principais representantes, a dialética é anterior a ele.
Sete séculos antes de Cristo, Lao Tsé já incorporava a dialética à sua doutrina no livro TAO TE CHING.
Heráclito de Éfeso, filósofo pré-Socrático, afirmava que a dialética é um processo cíclico em constante movimento. Uma luta de opostos. Uma constante do que "está por vir", uma vez que nada dura para sempre e tudo se transforma.
Já na Idade Média existia uma concepção metafísica da dialética, que favorecia as classes dominantes, quando se acreditava que as coisas não deveriam mudar. A metafísica condena o conceito de dialética, uma vez que para ela não há movimento das ideias e a partir daí acredita-se que todos os indivíduos são condicionados pela sociedade.
Uma eterna disputa de teorias entre "O indivíduo é produto da sociedade" x "A sociedade é produto dos indivíduos" (este conflito pode ser encontrado nas teorias de Rousseau e de Hegel, e ainda é discutido nos dias de hoje).
A dialética materialista de Marx baseou muitas de suas teorias nos estudos de Feuerbach.
Este, por sua vez, acreditava que Deus era uma projeção do homem e portanto condenava os filósofos metafísicos que apenas idealizavam teorias sem executá-las.
Marx era a favor do realismo materialista e científico, onde o ser social deve determinar a consciência do homem, onde o foco não é o mundo do espirito, e sim do mundo da matéria, da realidade e do trabalho.
O marxismo filosófico em nenhum momento separa a teoria da prática, pois a prática é o critério da verdade da teoria.
“Uma teoria não é um dogma”
A dialética possui algumas leis, ou princípios a serem compreendidos:
1° - Tudo se relaciona (Princípio da totalidade)
O todo não é mais importante do que as partes, logo o sentido não está no todo e sim no relacionamento das partes.
2° - Tudo se transforma (Princípio do movimento)
A dialética considera que todas as coisas estão em contínua transformação.
3° - Mudança qualitativa (Princípio da mudança qualitativa)
A vida se repete, porém produz sempre algo novo.
4° - Unidade e luta dos contrários (Princípio da contradição)
A contradição é a essência da dialética.
Marx critica o positivismo (que aborda a ciência como a verdade) não por invalidá-lo como ciência, mas porque acredita que não é possível que todos tenham acesso a ela, uma vez que não é democrática a todas as classes sociais, enquanto que a dialética crítica, questionadora e revolucionária, é acessível a todos.
Marx critica a metafísica por ser teórica e incontestável, ao contrário da dialética. Além de sempre olhar o ponto de vista da classe dominante e não do proletariado.
DEVEMOS SEMPRE OLHAR O PONTO DE VISTA DO PROLETARIADO E NÃO DA CLASSE DOMINANTE, SÓ ASSIM TEREMOS ACESSO À VERDADE E NÃO ÀS MENTIRAS DE QUEM SÓ QUER SE MANTER NO PODER.
A dialética se opõe a tudo que é dogmático. E se inspira no desenvolvimento do ser humano e do ser social, contra um idealismo puramente espiritual de desenvolvimento.
Capitulo II – Crítica da Educação Burguesa
O homem é um animal que age na natureza, modificando-a e ao transformá-la transforma também a si mesmo. Ter essa visão, enxergar esta ação, o faz diferente de todos os outros animais.
Assim como também é o único animal que se mantém dentro de infraestruturas e superestruturas dependentes entre si.
Gadotti usa o termo Superestruturas para identificar o Estado, o Direito, a Religião, a Ideologia, e a Cultura, responsáveis pela educação de uma sociedade. E Infraestruturas para estabelecer relações de trabalho e meios de produção, responsáveis pela conquista financeira e da propriedade privada.
A educação faz parte da superestrutura pois além de ser uma questão sócio econômica também faz parte da luta de classes. A luta pelo direito à educação deixa claro este conceito.
Gadotti cita no livro as bases de seus estudos, entre eles Suchodolski – A Pedagogia e as grandes correntes filosóficas, Manacroda – Marx e a Pedagogia e Wagner Rossi – Pedagogia do trabalho.
O trabalho é visto como princípio antropológico. O homem não nasce homem, se torna homem, no sentindo de ocupar um lugar social. Um desses caminhos de transformação é o trabalho, que o próprio homem produz. Logo, o homem produz a si mesmo. “O homem é o que ele produz socialmente”.
Mas o antagonismo entre as classes não permite que o homem se desenvolva em toda a sua plenitude e o papel de um educador é um elemento exterior capaz de produzir consciência ao homem, evoluindo assim, juntos, professor e educando.
É no trabalho que o homem se encontra como o ser individual e coletivo. Antropologicamente é a práxis que o torna homem. O trabalho, por sua vez pode ser classificado como trabalho produtivo e trabalho improdutivo.
O trabalho produtivo é o que produz mais valia (produtos que suprem a necessidade do homem), mas na sociedade capitalista o produto do trabalho do homem não é seu, não pertence a ele. E poucas vezes quem produziu consegue adquirir o produto com o que recebe de seu trabalho. O que o homem produz pertence a outra pessoa, e no fim o valor do produto é maior que o valor de seu trabalho, alienando o produtor.
Um trabalhador que não produz mais valia (um professor, por exemplo) é considerado um trabalhador improdutivo para a sociedade capitalista. Porém, mesmo que o professor não seja considerado um trabalhador produtivo ele é pago pela burguesia, que depende culturalmente e intelectualmente de seus serviços. O valor do professor é dado pela troca, pois não há produto.
Professores não produzem mercadorias, mas igualmente aos operários não dispõem DE TEMPO LIVRE para si. As férias e os finais de semana dão uma falsa impressão de tempo livre para que a massa trabalhadora possa trabalhar e se dedicar ao trabalho em praticamente metade dos seus dias sem se revoltar.
Viver para trabalhar ou trabalhar para viver?
Os programas televisivos alienantes e o consumo de bens materiais levam os trabalhadores a esquecerem a sua vida voltada exclusivamente ao trabalho, com a finalidade de enriquecer outros.
Marx então afirma que para acabar com a alienação da força de trabalho é necessário gerar consciência, começando pelas crianças que deveriam estar estudando e não trabalhando. Eliminando o trabalho infantil e oferecendo escola pública e gratuita a todas as crianças.
Marx defende o trabalho virtuoso como edificação formativa para as crianças compreenderem o mundo, sem a exploração do capitalismo.
A Educação deve ser pública e gratuita, mesmo quando feita pelo trabalho (politécnicos).
Porém, antes de executar este tipo de Educação é necessário que haja uma revolução e que a educação não seja mais gerida pela classe dominante.
A educação deve trabalhar com o homem integral, criando potencialidades, porém com a divisão social existente esta forma de educação torna-se impossível, pois com o tempo necessário para produzir mais valia pouco resta para que o homem possa utilizar em seu desenvolvimento.
Infelizmente as massas não conseguem essa visão crítica da sua realidade, enquanto a burguesia possui oportunidade de educação e cultura, assim como de desenvolver uma consciência superior.
A teoria revolucionária de Marx e Gramsci diz que cada aluno deve ter condições de ser, não apenas mais um operário, mas si qualificado para se tornar um governante, trazendo uma tendência democrática para a escola.
Mas a verdade é que somente a classe trabalhadora propõe mudanças.
A escola deve ser unitária para todos (sem divisões) e não uma escola humanista para a classe dominante, que desenvolve o trabalho intelectual, e uma escola formativa para a massa desenvolver o trabalho técnico e manual.
A escola deve ser um lugar contra hegemonia. A educação deve ser engajada, crítica, transformadora, que integre o intelectual com o operacional, sem a luta de classes, mas que possibilite a superação das condições de desigualdade da sociedade.
Capítulo III – Crítica da Pedagogia Crítica
No início do século XX a crença nas mais diversas possibilidades da escola – uma instituição onde poderiam ser desenvolvidas as intelectualidades de forma integral - cresceu entre a população menos privilegiada. A autoridade do professor e os métodos tradicionais começam a ser questionados. Porém, com as guerras e as dificuldades surgidas no início do século surgem as dúvidas sobre a real possibilidade da escola mudar a sociedade.
Surge então a Escola Ativa e as pedagogias não diretivas, com base na autogestão pedagógica que combina a autoridade do professor com a liberdade dos alunos.
O professor não é um guia, ele apenas cria condições para que o aluno se desenvolva. O professor está a serviço do aluno.
Segundo Gadotti, a Pedagogia Tradicional não “desenvolve a energia vital” da Educação, que é a busca do homem pelo conhecimento, portanto causa o fracasso escolar.
Na Pedagogia Institucional há uma reestruturação na relação de autoridade, que as vezes impede o acesso e a busca do conhecimento com autonomia e responsabilidade, enquanto que na pedagogia não diretiva todos possuem oportunidades.
Porém, Gadotti também apresenta as contradições e contestações dessa teoria, afirmando que a mesma deixava de lado o conteúdo, apenas focando no método, enquanto que o educador socialista é uma formação dialética e política (engajada) além da formação acadêmica.
EDUCAR NÃO É ADESTRAR E O PAPEL DO PEDAGOGO REVOLUCIONÁRIO NÃO É SER NEUTRO.
Após estudar e teorizar sobre a Educação sem autoridade, o autor diz que aprendeu na prática a necessidade da mesma e descreve seus relatos sobre a experiência de autogestão pedagógica no grupo da Université de Genéve, que mostraram que a falta de autoridade total pode gerar falta de responsabilidade.
Para a educação ocorrer é necessário haver o confronto e o contraditório, conforme explicitado no primeiro capítulo. Os conflitos são necessários à Educação pois somente a participação social não tem poder de transformação, é preciso se fazer refletir.
Capítulo IV – Crítica da Educação Brasileira
A educação é política, pois carrega ideologia.
Gadotti critica o Estado autoritário brasileiro que faz da educação um cabresto da massa e utiliza os programas de TV como prática de dominação e aparelho ideológico.
O trabalhador é explorado, e nos finais de semana é alienado pela TV, impedindo-o de ter uma consciência de classe.
A época da Educação Populista (1930-1964) pode ser contextualizada pelo momento da Ditadura Militar (opressão) e privatização das universidades (burguesia), um período rico e contraditório por conta dos movimentos sociais e reformas educacionais.
Há uma mudança econômica muito importante com a aliança da classe burguesa industrial com a elite dominante dos cafeicultores. Até 1945 o ensino era primordialmente elitista, com um monopólio inclusive da igreja, quando então surge a ideologia liberal solicitando uma escola laica e gratuita, gerando um choque aos religiosos. Mas a ideia da escola acessível a todos era do interesse da burguesia, pois a escola seria um meio de inserir a ideologia da nova burguesia para preparar os alunos às novas hegemonias.
As escolas técnicas, por outro lado, se comportavam como aparelhos de reprodução de mão de obra, e o autor traça panoramas históricos contextualizando as principais reformas da Educação que serviam de base para os interesses burgueses, ora de um setor, ora de outro.
O nacionalismo e as alianças de classe da Educação Populista levaram a uma deterioração do ensino Público, pois a burguesia dominante estava desejosa por utilizar a escola com a finalidade de repassar suas ideologias.
O desenvolvimento urbano industrial precisava de mão de obra, e paralelamente a isso o ensino superior começa a ser pago pela iniciativa privada e passa a receber pouco investimento do Estado. Houve corte de verbas e oferecimento de bolsas a serem pagas no futuro, tudo isto levando a população a se familiarizar com um Ensino Superior privado, se adequando à demanda.
O proletariado na universidade não é bom para a classe dominante, porém na universidade privada é mais fácil controlar o discurso ideológico, interesse da burguesia.
E foi assim que, visando cada vez menos participação dos estudantes nas decisões da universidade, o Estado desobrigou-se a oferecer o nível superior de ensino, instituindo o crédito educativo, o congelamento de vagas, o aumento das taxas escolares e uma campanha permanente contra o Ensino Superior Público. Baseando suas atitudes nos resultados do Relatório ATCON, que visava a educação a serviço do capitalismo e a conquista da autonomia pela privatização, o Estado eliminou a interferência estudantil nas decisões ideológicas sobre a qualidade da educação no país.
Com o controle político da universidade e a interferência do Estado, reduziu-se as verbas destinadas às pesquisas e a educação superior foi mercantilizada.
A busca pela universidade crítica, que deve ser pública e gratuita - pois a Educação é um bem público - continuou. Mas por conta de fixar uma ideologia, segunda Gadotti, a gratuidade da escola foi substituída pela gratuidade da televisão.
A televisão gratuita é uma transmissão de ideias sem críticas, não é considerada lazer e sim controle social, que faz do seu telespectador um pseudo aluno passivo. A televisão é a ideologia que se apropria do tempo livre.
Houve também a preocupação sobre as intenções do educador, ou sobre qual educação o mesmo estaria pautado. Em qual ideologia o professor foi formado?
Primeiramente surgiu uma crença ingênua sobre como a educação seria a “redentora da humanidade” e aos poucos foi substituída pela ideia de que a educação é um instrumento de manipulação. Logo, o professor seria ferramenta primordial deste instrumento.
O professor não deve ser reprodutor da cultura dominante, transmissor de modelos sociais arraigados, e sim difusor de boas ideias, requisitando sempre materiais pedagógicos para todos e. ambientes de trabalho adequados (biblioteca, etc..)
Deve criticar e negar a ideologia burguesa dominante, criar consciência de classe, defender o ensino público gratuito, com melhores salários e escolha dos dirigentes por vias democráticas.
Afinal, a educação deve ser emancipadora para ampliar as possibilidades de todos, com empatia, reflexão e respeito aos outros. O aluno deve ser sempre o centro da aprendizagem!
Este foi o resumo que fiz da obra do Gadotti.
Espero que seja útil para quem decidir prestar concurso, ou até mesmo para quem tiver curiosidade sobre o assunto do livro.
(As vezes eu gosto de ler uma resenha antes de comprar, para não criar expectativas e me decepcionar depois).
Estou terminando o resumo de outras obras para postar, tenho certeza que irão gostar.
Beijos, M.
🔑 Espero que tenha gostado do conteúdo.
Para escrever este texto consultei diversas fontes: Google, Amazon, Wikipedia, e Skoob Livros em PDF. A chave do sucesso é consultar outras fontes você também!
Bibliografia
GADOTTI, Moacir. Concepção
Dialética da Educação. 7 ed. São Paulo: Cortez/Autores Associados,
1990.