Resumo: Com todas as letras (Emilia Ferreiro)

Oi! 
Como estão esses leitores ávidos por informação, tudo certinho?
Hoje trouxe mais um resumo, mais um autor super valioso para a nossa vida como educadores e para os concursos que vez ou outra pipocam por ai.
A Emilia Ferreiro dispensa apresentações, porém se você não é deste mundo e nunca ouviu falar da nossa maravilhosa autora segue um link sobre ela. 
O livro "Com todas as letras" não traz informação nova, na verdade é uma obra onde a autora resume "de uma vez por todas" a importância do método construtivista na alfabetização e todo o funcionamento do método, daí o nome COM TODAS AS LETRAS. Portanto, quem não tinha entendido a essência do Psicogênese da língua escrita (obra icônica da Emilia Ferreiro) já consegue entender o que a autora aborda.
O livro é de 1992, mas se faz atual, visto tanta resistência ao método construtivista, principalmente e ironicamente por quem não o compreende. 
A obra também oferece aos educadores uma visão politica e social dos métodos, defendendo uma alfabetização socialmente inclusiva e a função da leitura e escrita na sociedade. 
Consegui colocar as 101 páginas em 6, mas não foi difícil porque o livro em si é repetitivo, ela frisa bastante o mesmo conteúdo.
Vamos lá?




São 3 capítulos curtos e complementares, mas de muita informação e aprendizado! Marcarei as partes que eu considerar importantes. 

1) A alfabetização das crianças na última década do século 
Com um espírito animador de “final do século” muitos projetos na área da educação foram surgindo no ano de 1979, inclusive um plano de 20 anos para eliminar o analfabetismo e oferecer uma educação mínima de 8 a 10 anos, com qualidade e eficiência. 
Mas a década de 80 foi particularmente ruim para a Educação, pois com a crise econômica houve uma forte redução de investimento na Educação Pública. 
Voltou-se a conversa sobre os investimentos na pasta alguns anos depois, após a Unesco declarar 1990 como Ano Internacional da Educação, e os organismos internacionais como a Unicef e o Banco Mundial decidirem investir novamente nesta pauta, inaugurando assim a década da alfabetização. 

Sabe-se que a alfabetização é a mais básica de todas as necessidades de aprendizagem, porém o discurso nacional da época, infelizmente, era meramente ideológico, com interesse somente na melhora da posição do país nas reuniões internacionais, e não na alfabetização da população em si.   
Por isso, quando o discurso fala sobre a necessidade de eliminar o analfabetismo matriculando todas as crianças na escola, vemos classes abarrotadas com professores mal pagos. 
Infelizmente mascarar os dados é mais fácil que a solucionar os problemas. 

O Brasil passou de 5 milhões para 20 milhões de habitantes em menos de 20 anos, com uma população crescendo exponencialmente seria esperado que as escolas estariam lotadas, porém também era esperado que a qualidade da educação não acompanhasse tamanha demanda. Não coincidentemente, nesta época, a América Latina possuía a taxas de repetência escolar mais altas do mundo. 

O filtro mais severo da repetência está na passagem do primeiro para o segundo ano da escola primária. Então para diminuir a repetência foram propostas duas soluções: a promoção automática e a ampliação dos serviços especializados de apoio. 

A promoção automática tem sério oponentes dentro e fora do magistério, pois acredita-se que isso baixa a qualidade do ensino uma vez que a promoção seria o estímulo principal do aprendizado na escola. Porém, a estratégia foi mal recebida primordialmente porque as pessoas não compreenderam que mesmo que a autopromoção fosse eficaz socialmente ainda seria necessário melhorar a qualidade de ensino, ou o problema do aprendizado somente seria empurrado para o próximo ano, deslocando assim o funil da repetência. 
Pensa-se que para os professores a estratégia é uma forma de aliviar as classes superlotadas e livrar-se dos alunos mais difíceis, que seriam então atendidos por profissionais do apoio especializado (psicólogos, etc..) de acordo com a segunda estratégia, porém mesmo que ela tenha sido mais aceita é uma estratégia que aumentaria muito o custo do aluno para o Estado, além de tratar a criança como se ela fosse o próprio transtorno

Na verdade, não há maneira de atacar seriamente o problema da qualidade de ensino se o foco não for a melhora do mesmo. 
Mesmo que as crianças sejam facilmente alfabetizáveis segue o questionamento sobre a qualidade da alfabetização... A mesma não deve ser rudimentar a espera de um serviço especializado para auxiliá-la. 

Quais são os objetivos da alfabetização? 
Além do prazer da leitura e de se expressar-se por escrito, um dos objetivos principais da alfabetização é que a pessoa compreenda a língua escrita e sua função na sociedade, como por exemplo entender coo se faz uma lista de compras do mercado, escrever um bilhete, ler uma carta, etc. 

Na maior parte do tempo se apresenta a escrita como um objeto em si, quando se deveria mostrar a importância da escrita fora da escola. No decorrer dos séculos a escola transformou a escrita em um objeto escolar quando ela é objeto social. 
“A escrita é importante na escola porque é importante fora da escola, e não o inverso” 

O ensino da alfabetização continua apegado às práticas envelhecidas da escola tradicional, que supõem ser o aprendizado efetivo somente através da repetição, memorização e outros modelos mecânicos, enquanto na realidade a escola deveria oferecer um ambiente alfabetizador com portadores de escrita (livros, revistas, etc..), enfatizando a leitura silenciosa e a produção de texto no lugar da oralidade obrigatória.
A atitude curiosa deve sobressair o medo da língua escrita. 
As crianças se interessam pela alfabetização desde que descubram, através de contextos sociais funcionais, que a escrita é um objeto interessante e merece ser conhecido. 

Toda escrita alfabética tem como princípio fundamental marcar as diferenças sonoras através de diferenças gráficas, mas no desenrolar histórico se produzem inevitavelmente defasagens entre esse princípio geral e as realizações concretas dos usuários. 
É falso supor que a escrita representa o modo idealizado da fala!
A escrita representa a língua e não a fala. 
Esta é uma das razões fundamentais porque a correção ortográfica não pode ser exigida nas primeiras etapas da alfabetização, com risco de distorcer o processo desde o início. 

Na alfabetização, independente da metodologia utilizada, se por fonema ou silabação, sempre há em comum a dúvida por onde começar. Qual letra, qual fonema, qual sílaba? 
Essa decisão dá margem para varias discussões e muitas polêmicas entre os pedagogos, mas se compararmos a aprendizagem da leitura com a aprendizagem da fala podemos perceber que nenhuma mãe apresenta primeiramente ao filho os fonemas mais fáceis de falar para que ele aprenda a língua. 
A criança aprende porque é inserida no mundo falante várias horas de seu dia. 
E ninguém espera que a primeira palavra de uma criança esteja certa desde o início.
Aceita-se um comportamento de aprendiz, pois é isso que a criança é. 
Devemos apresentar às crianças o mundo da leitura com o simples ato de ler e permitir que ela participe, interaja, tente ler e erre no começo de seu aprendizado, para que ela não tenha medo da leitura, pois tentar organizar metodicamente a leitura desde o início pode desmotivar a criança. 

Produção de materiais 
Um fator frequentemente mencionado como necessário para facilitar as ações de alfabetização é a produção de materiais. 
Existem três tios principais de materiais direcionados à alfabetização:
1 - Produzido para os professores, como modo de ensinar-lhes a prática pedagógica tal qual uma receita de bolo
2 - Materiais para ler, não para aprender a ler e sim para ler realmente, como os livros, revistas, etc...
3 - Materiais para aprender a ler, do estilo cartilha, que embora muito comuns são contraproducentes, pois pretende-se que a criança aprenda a ler a partir de uma codificação mecânica e sem sentido. 

Além disso, é comum encontrar crianças de 4 a 6 anos, que frequentam instituições pré-escolares da rede pública, que estão limitadas a socialização e exercícios motores, enquanto as crianças das escolas particulares são obrigadas a serem alfabetizadas antes dos 6 anos, criando um abismo entre os dois grupos ao chegarem no primeiro ano.

Quer dizer que crianças não podem ser alfabetizadas enquanto novas? Não devem aprender a ler e escreve enquanto na pré-escola? 
A resposta é simples: Não se deve ensinar, mas deve-se permitir que ela aprenda, oferecendo múltiplas oportunidades para que as crianças vejam a professora a ler e escrever, se familiarizando assim com a alfabetização e sua utilidade. 
A sala de aula deve ser um ambiente alfabetizador. 

Os indicadores de alfabetização do primeiro ano informam que apenas 1,3% das crianças escreve seguindo os princípios de base do sistema alfabético, e poucos, apenas 42,7%, usam a letra com valor sonoro de forma consistente. Se exigíssemos a ortografia convencional na essas porcentagens seriam ainda mais baixas. 
Segundo a autora a alfabetização dever começar com calma, e com qualidade, sem o desespero de alfabetizar por alfabetizar. Os alunos devem ter a possibilidade de escutar o professor e saber o que ele está lendo, devem ter acesso o quanto antes à escrita do seu nome, devem ver desde o início todas as letras, sem pedir correção gráfica ou ortográfica de imediato, deixando livre a possibilidade de autocorreção, fazendo assim uma aproximação da criança com a leitura sem que esta tenha medo de ler.

É muito mais fácil introduzir a leitura e a escrita com alegria e entusiasmo, porém os dados parecem apontar a mesma direção: os professores leem pouco, escrevem menos ainda e estão mal alfabetizados, e assim é muito difícil alguém transmitir prazer na leitura
Os professores mais antigos são resistentes à capacitação e não conseguem refletir sobre a própria prática, não conseguem operar mudanças, nem que seja na organização espacial da sala. Ou deixar que os alunos se tornem colaboradores e tenham certa liberdade em classe, tornando o ambiente alfabetizador algo muito além do que decodificar símbolos, e mais do que uma escrita e leitura rudimentar, manual, e operária, escrita essa que lhes permite serem apenas trabalhadores de fábricas no futuro. 

2) Alfabetização de crianças e fracasso escolar - problemas teóricos e exigências sociais
O analfabetismo e a pobreza, tal qual a marginalização social, caminham juntos, não são fenômenos independentes, e o analfabetismo dos pais está comprovadamente relacionado com o fracasso escolar dos seus filhos. 
O funcionamento da sociedade global requer indivíduos alfabetizados, portanto os indivíduos podem exigir direito à alfabetização, já que não é uma opção individual e sim uma necessidade social. 
Porém a alfabetização é rudimentar para uns e sofisticada para outros. 
Como garantir direitos iguais se a escola pública está cada vez mais deteriorada, empobrecida e tecnicamente desatualizada?

O Estado delega ao setor privado a maior parte de suas obrigações e retém somente aquelas de tipo “assistencial”, para os setores cujo poder aquisitivo não lhe permite pagar por um serviço necessário, tal qual a Educação. E há uma diferença fundamental entre a concepção tradicional (que considera que o primeiro passo na aquisição da língua escrita é a aquisição de uma técnica de codificação/decodificação) e a compreensão de um modo particular de representação da linguagem oferecida pela alfabetização de qualidade. Com tantas diferenças entre métodos, crenças e realidades fica ainda mais difícil garantir a todos o direito à Educação.

Alguns problemas teóricos vinculados à alfabetização 
Uma máxima bastante utilizada na educação é o "esperar a criança estar madura para iniciar o seu contato com o mundo da leitura e da escrita", algo que para a autora não parece benéfico. 
Há domínios para os quais ninguém se pergunta se a criança está pronta ou madura para iniciar a alfabetização.  
O problema desses pré-requisitos para uma aprendizagem coloca-se de diferentes maneiras: 
1) Apresenta-se como uma noção escolar, como algo que a criança tem ou não tem. 
2) Os sujeitos devem demonstrar habilidades definidas como requisitos prévios. 
É bastante complicado cobrar maturidade para iniciar a alfabetização, porque a maturidade pode ser proveniente de um processo interno ou de um processo social. até mesmo por questões ambientas. A maturidade pode chegar inclusive por meio da alfabetização. Portanto solicitar pré-requisitos para alfabetizar é uma forma de potencializar as diferenças entre as realidades.

3) A construção da escrita da criança 
O termo construção utilizado no livro não era muito comum na época, geralmente se usava o termo “aprendizagem”, porém é um termo de forte conotação empirista, enquanto que o termo “construção” pode conter várias percepções como ativo, protagonista e participante.
Participar ativamente da aquisição do conhecimento, e porventura da alfabetização, traz a qualidade esperada. Quando trabalhamos a aprendizagem de forma passiva, segregando os que apresentam alguma dificuldade, não trabalhamos com a construção do conhecimento de forma igualitária, justa e com qualidade. Ao final do terceiro capítulo a autora apresenta diversas escritas como exemplo da construção da alfabetização, demonstrado o período silábico, silábico-alfabético, e finalmente alfabético e exemplificando como a fonetização da escrita se inicia automaticamente quando as crianças começam a buscar relação entre o que se escreve e o que se lê, sem necessariamente ficarem decorando sons aleatoriamente e sem significado.


Este foi o singelo resumo que fiz desta obra da Emilia Ferreiro. 
Espero que seja útil para quem decidir prestar concurso, ou para quem quiser refletir sobre a sua prática pedagógica. 

Beijos, M.


Bibliografia
FERREIRO, Emília. Com todas as letras. São Paulo: Editora Cortez, 1996.




🔑 Espero que tenha gostado do conteúdo.
Para escrever este texto, além da obra do próprio autor, consultei diversas fontes como Google e Site Nova Escola.  A chave do sucesso é consultar outras fontes você também!